Acontece que, cada vez mais, tenho tido a impressão de que o que se fala não é exactamente o que se sente. Ou melhor, a maneira com que se tem falado das situações que envolvem o coração é bem destoante do modo com que se tem vivido os sentimentos. A meu ver, temos maquiado nossas palavras e colocações a fim de mostrá-las seguras, cheias de certezas, tão certas a ponto de tornarem-se inflexíveis, ao menos aparentemente. Parece-me que estamos convencidos de que precisamos provar que temos uma auto confiança e uma auto-estima imbatíveis, indestrutíveis, sobre-humanas talvez... Mas estou certa de que a realidade não é bem essa! Na solidão de cada quarto, no consolo de um ombro amigo, nas confissões feitas nos divãs e até na busca esperançosa nos templos, igrejas e orações, fica evidente que há bem pouca consistência nesta aparente perfeição. Mais do que isso, a fragilidade e os intermináveis questionamentos que rondam tantos corações estão gritando em cada relação vivida e até mesmo naquelas não-vividas. A carência, o medo de sofrer, dúvidas sobre o que fazer e como agir revelam o quanto o ego de tanta gente está bem maior do que sua consciência. Por quê? É... Também me faço esta pergunta e não a encontro em absoluto, pois felizmente não sou dona da verdade, mas suponho que elas têm tentado – a todo custo – tão somente se defender. Entretanto, de tão defendidas, de tão cheias de couraças, escudos e máscaras, terminam subjugando sua essência e, portanto, se distanciando daquilo que realmente sentem. Creio que a auto percepção seja um bom primeiro passo. Observarmos aquilo que estamos dizendo, pensando ou fazendo é uma maneira eficiente de constatarmos o quanto nossas palavras têm estado desafinadas com o que carregamos no peito. Frases carregadas de prepotência, do tipo “eu sou assim e pronto”, “se quiser, ela (ou ele) que mude de ideia”, “ninguém vai mandar em mim”, entre outras, só servem para encorpar um orgulho que não nos preenche e nem nos satisfaz. Que a partir de agora, possamos admitir mais: “não sei”, “talvez eu tenha mesmo que mudar de ideia”, “quem sabe eu esteja enganada?”, “estou confusa, com medo, precisando de ajuda”... E que assim, bem mais consistentemente humanos, possamos nos encontrar num abraço maior que nossos próprios braços, que nos acolha não porque parecemos sempre certos, mas porque somos sempre humanos.. e humanos precisam de afeto!

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